quarta-feira, novembro 30, 2005

Pequenina homenagem a dois poetas que "simplesmente", gosto...

70 anos antes...



É talvez o último dia da minha vida.
É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o Sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.
Alberto Caeiro


Se, depois de eu morrer...

Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas --- a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem setimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.

Alberto Caeiro





Hoje...

O poeta que vai ser agraciado pelo P.R.



Faz-me o favor...

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.


Mário Cesariny

12 Comments:

Blogger Papo-seco said...

Bonita(s) homenagem(ns)

:)

3:27 da tarde  
Blogger mfc said...

70 anos em que os seus livros não ganharam pó nas nossas estantes!

3:58 da tarde  
Blogger Unknown said...

Pessoa "o Eterno"...

7:03 da tarde  
Blogger Unknown said...

e o cesarini não? foi hoje homenageado.

11:03 da tarde  
Blogger heidy said...

Temos de ter orgulho no que é nosso. E garanto que na minha prateleira nenhum livro destes dois, ganha pó. :p

11:52 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

“Soares está tão desesperado, que se tornou numa figura patética, num bobo de uma corte de trapos velhos” – Quitéria Barbuda in “Os Miseráveis”, revista “Espírito”, nº 22, 2005.

Brigada Bigornas

www.riapa.pt.to

3:59 da tarde  
Blogger Unknown said...

Tbem acho heidy, afinal se não formos nós a ter orgulho, quem o tem?

6:24 da tarde  
Blogger Ovelha Negra said...

Pessoa... Simplesmente adoro Pessoa...Um dos grandes responsáveis para estar no curso em que estou... Grande conhecedor da alma humana...

8:36 da tarde  
Blogger heidy said...

Apaixonei-me por Pessoa há muitos anos atrás; e ouvi pela primeira vez Cesariny, durante uma conversa... tendo-o como voz de fundo. :)
E sim, acho que temos de homenagiar quem tem valor. Não precisamos de esperar, que a sua vida chegue ao ultimo degrau, para nos lembrar-mos, que afinal existiram. E tantos exemplos, que temos na nossa literatura; história: medicina... matemática... e ainda temos a mania que o nosso país, não vale nada...
Nós valemos, apenas não acreditamos. Deixamos que outros nos digam que somos uma nulidade, e baixamos a cabeça em sinal de credibilidade perante essa afirmação. Está ma hora de deixar de lado, a ideia do tal fado, tão inerente ao nosso povo. Somos algo.

10:39 da tarde  
Blogger Unknown said...

Infelizmente cada vez mais o povo portugues tem problemas de auto estima, cada vez menos acreditam no que fazem e porque o fazem...

6:02 da tarde  
Blogger heidy said...

Menina, o grande mal é esse. A nossa "mão-de-obra", é mais barata se estivermos desmotivados. E parvos somos nós, que acreditamos que não "podemos dar cartas". Isso irrita-me profundamente. Mas claro, tendo quem temos à frente do nosso pequenito país, que mais poderemos esperar? a não ser que o pessoal reze muitooooooooooo, para o barco não afundar.

6:08 da tarde  
Blogger Unknown said...

Não me parece que estejamos longe de ser um novo Titanic, mas temos pelo menos que ter esperança e mesmo que nos estejamos a afundar temos que nos lembrar de que há sempre coletes salva-vidas e boias, e quando se acabarem podemos sempre tentar nadar, mesmo que seja contra a corrente, afinal enquanto se luta há esperança, se baixar-mos os braços e simplesmente nos deixar-mos ir na corrente é que já é dificil voltar a trás...

5:13 da tarde  

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