quarta-feira, janeiro 02, 2013

Morri e renasci...

Já fui muitos seres... deitei fora algumas almas... destruí o meu próprio coração. Renasci mil vezes. Agora, afasto-me. Encolho-me. Lambo feridas e digo adeus. Levanto a cabeça.... olho no espelho... trânsito sobre o meu próprio julgamento. Dou a minha sentença. Prendo-me? liberto-me? desamarro os nós que tolhem os meus pulsos... deitam sangue. Desinfecto. Doi! Magoa! Tenho a pele ferida por causa da minha própria força. Em desespero, atiro-me contra as rochas e deixo-me levar... embriagada pelo cheiro da maresia. Perco o norte! A minha estrela guia. O meu farol. Novo desespero. Nova turbulência na minha ponte... águas revoltas... sentidos opostos... vínculos cortados... morte! Último suspiro... ganho força e abro os meus olhos. É noite. Metade da cidade dorme. Um silêncio obscuro funde-se comigo. Esforço. Penso. Viro a cabeça e não reconheço aquele ponto. Não existe calma. Medo. Tento levantar-me. Sinto os meus pulmões doridos. Agarro-me a um tronco. Mãos flageladas. Com um joelho no chão dou balanço. Consigo. Sinto-me gelada. Olho para o chão e vejo pegadas. Devo seguir esse rastro? Olho para trás... observo uma negra escuridão. Tomo a decisão. Não posso parar. Sou empurrada para a frente através de uma suave rajada de vento. Dá-me o impulso necessário. Tudo fica naquele lugar. O sítio onde me deixei cair. Onde desabei. Quase me afundei. Desta vez, estive perto. Mais uma. Não quero. Não posso. Não desejo. Deixo ir.
Ressuscito!


(Do baú, escrito há muitos anos. Apenas um texto sem conexão com a vida real.)


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